Uma moça está conversando com uma rapaz sobre amenidades. Ela pergunta se ele namoraria com ela. Não, ele diz. Por quê?, ela quer saber. Porque eu acho você feia, o jovem diz. Ela fica calada, apenas os olhos transparecem o choque, o rosto não. Ela se retira.
Outra imagem. Uma mulher no leito de morte, acompanhada pela esposa, pergunta porquê o filho não veio mais visitá-la. A mulher explica que ele não consegue. Outra cena. Uma garota acusa o namorado da irmã de ter tentado violentá-la. É mentira, ela no fundo está apaixonada por ele. Com a acusação o rapaz é preso. Na prisão, é morto…
Um jovem rouba do melhor amigo a namorada. O amigo se afasta e não quer mais saber dele. O namoro acaba, mas a amizade não se refaz. Todas as histórias falam de culpa. Todas projetam peso às relações entre as pessoas.
A culpa e o arrependimento fazem parte do arcano do Julgamento. O processo da culpa tem como objetivo obrigar-nos a um ato de contrição, ao arrependimento. A força do arrependimento levará à vontade de voltar atrás no tempo. Ao desejo de refazer o malfeito, restituindo uma espécie de curso natural da luz, na vida de cada pessoa.
Evidentemente, algumas vezes, é impossível refazer o estrago. Mas ainda é possível uma mudança profunda de postura, e a transformação do ser. Contudo, a culpa pode levar também à paralisação. Uma espécie de sentimento de derrota, incapacidade e destruição, fazendo com que aquele que cometeu a falta, mergulhe na melancolia e depressão.
A sentença executada pela própria pessoa pode ser de auto-anulação e dor perpétua. O filme “Manchester à Beira-Mar“, é um bom exemplo do poder destruidor do arcano do Julgamento quando ficamos paralisados e consumidos pela culpa. Na história o personagem central vive a dilaceração da culpa e da auto-condenação. Ele não pode se absolver e está em busca da destruição, por se considerar não merecedor. Até que um evento exterior lhe dá uma nova chance de movimento de redenção.
O arcano do Julgamento é como duas trombetas chamando para a transcendência. A mudança é possível, mas só virá se nos comprometermos em sermos diferentes, sem concessões.
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